Filhos da Violência

Sete casos de violência física ou sexual contra crianças ganharam repercussão neste ano na região

Marilice Daronco e Lizie Antonello

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"A sociedade é muito relapsa. Quando eu tive coragem de contar o que tinha vivido, tentaram me convencer de que já tinha passado, de que era melhor deixar para lá. É assim que eles (os pedófilos) se criam, pensando que jamais serão punidos".

O desabafo acima é de um agricultor de Santana da Boa Vista, hoje com 66 anos, uma das vítimas do caso de abuso contra crianças e adolescentes de maior repercussão deste ano na Região Central.

Leoni Dorneles da Silva conta que foi abusado pelo ex-padre João Carlos Porto Maciel, mais conhecido como dom Marcos de Santa Helena, dos 7 aos 11 anos. Dom Marcos está preso desde o último dia 9, em Caçapava do Sul, quando uma operação da Polícia Civil fechou o mosteiro que ele mantinha na cidade e onde daria aulas de música para crianças e adolescentes.

O ex-padre, expulso da Igreja Católica e da Anglicana, chegou a dar aulas de música para 8 mil meninos em diferentes cidades brasileiras. As suspeitas de estupro contra ele vieram à tona depois que um de seus ex-alunos escreveu um livro relatando os abusos. Quatro casos já prescreveram, mas a investigação foi retomada pelo Ministério Público e pela Polícia Civil de Caçapava do Sul quando dois adolescentes denunciaram que foram vítimas de dom Marcos em 2010. O caso mais antigo é O do agricultor.

Fiquei solteiro até os 31 anos. Me aproximava das mulheres, mas não tinha coragem de tocá-las. Muitas questionaram minha masculinidade. Demorei muito tempo para entender que tinha vivido um trauma psicológico conta Silva.


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Segundo o psicólogo André Assunção, a reação do agricultor foi normal diante do trauma que ele afirma ter sofrido:

A pessoa tenta se proteger usando o que lhe ameaça: não quero me tornar abusador, então, não vou fazer sexo ou não vou dar vazão a minha libido porque posso sofrer. É a tentativa de se proteger do que continua sendo ameaça emocional.

Segundo o agricultor, os abusos começaram quando dom Marcos mandou instalar camas ao lado da dele na sacristia:

Fui doado para uma família muito religiosa. Para eles, não havia pessoa de mais confiança que o padre. E ele era um líder nato. O problema é que a gente sabia que, quando ele mandava que fôssemos para a sacristia, seríamos assediados. Cada vez, ele levava três ou quatro meninos para a sacristia e assediava um de nós. Quando um se negava a ir, ele ia nos buscar em casa.

A quarta reportagem da série Filhos da Violência, mostra casos de vítimas que são ainda mais indefesas: as crianças.

A violência na região

Sete casos de violência contra crianças ganharam repercussão neste ano na Região Central:

Agudo

Um casal é suspeito de tentativa de homicídio contra uma menina de 26 dias. A bebê foi hospitalizada em 30 de outubro, com traumatismo craniano. De acordo com a investigação do delegado Eduardo Machado, o pai da criança, um homem de 21 anos, jogou-a no chão durante uma briga com a mulher, que tem 18 anos. O homem está preso pelas agressões. A mãe, que está em liberdade, responde por omissão. A criança só foi levada ao hospital um dia depois da suposta agressão. Ela teve de ser internada no Hospital Universitário de Santa Maria. A segunda audiência do caso foi realizada no último dia 12. Por enquanto, os pais não foram ouvidos pela Justiça. Caberá à Justiça decidir se o casal vai a júri

Caçapava do Sul

O ex-padre João Marcos Porto Maciel, conhecido como dom Marcos de Santa Helena, foi preso temporariamente em 9 de dezembro em Caçapava do Sul, onde criou uma abadia e um mosteiro da Igreja Veterodoxa. Ele é investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público por suspeita "

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